terça-feira, 17 de novembro de 2009

Estréia

Publicado no jornal A Gazeta por Tiago Martinello em 20 de junho de 2009.
O Grupo do Palhaço Tenorino (GPT) estréia hoje, às 20h, no teatro de Arena do Sesc, a sua mais nova peça “Quem é o rei?”, escrita por Marília Bonfim e dirigida por Dinho Gonçalves. O grupo realizará quatro apresentações (dias 19, 20, 26 e 27), abrindo o projeto do Sesc Encena na Arena, que tem por objetivo apresentar todo mês, até o final do ano, uma peça. O espetáculo é financiado pela Lei de Incentivo à Cultura municipal, patrocinada pelo banco HSBC. O ingresso custa R$ 12,00.
De acordo com Dinho Gonçalves, a obra retrata basicamente as relações de poder existentes em quase todas as situações do cotidiano de uma pessoa. O próprio título incita a reflexão de quem seria aquele que manda e aquele que o obedece, que também tem aqueles que o obedecem e assim sucessivamente, num ciclo hierárquico interminável. Tal autoritarismo é representado na peça por um dos personagens, que é um rei extravagante e vaidoso. O texto é baseado em um livro da escritora Regina Machado, que por sua vez é inspirado em um conto oriental popular.

“Este texto é a sua base, mas vale ressaltar que para ser transformado em uma peça de teatro foi preciso associá-lo a uma série de outros elementos. Tais como a dramaturgia, o humor, a encenação dos atores, os diálogos, entre outros requisitos necessários. A respeito da relação de poderes, um ponto bem marcante da obra é a abordagem de que os mais poderosos querem trazer para si todos os méritos por um bom trabalho, mas na hora de assumir a culpa por algo que deu errado, eles preferem passar para seus subalternos”, esclareceu o diretor e ator da peça.
A outra temática em destaque em “Quem é o rei?” é a possibilidade de interpretações pessoais. Segundo Dinho Gonçalves, as pessoas da platéia podem identificar um pouco do rei em alguém presente na sua vida, seja o marido, a esposa, o patrão, o filho, etc. “A peça não é um documentário e sim uma exposição das relações de conhecimentos de cada um. É algo interativo. A gente vê as coisas sob as nossas perspectivas e isso é o que torna a arte tão interessante”, completou.
Para este novo trabalho, o GPT, que realiza espetáculos no Estado há 18 anos, procurou inovar com uma metodologia mais ousada: a metateatralidade. O formato consiste em incitar no público a idéia de que a apresentação está sendo feita ora com encenação ficcional, ora com intervenções da realidade. “Isso mexe com a platéia, por isso decidimos adotar este elemento”, explicou Dinho.
Após as quatro atuações no Teatro de Arena do Sesc, o grupo avaliará a receptividade da peça, aperfeiçoando-a para futuras apresentações.
Arte não deve ser de graça. A popularização da arte é uma das discussões mais freqüentes entre os apreciadores de qualquer tipo de manifestação artística. Conforme Dinho Gonçalves, o Governo do Acre vem trazendo grupos de teatro de outros estados há algum tempo, barateando o preço das entradas para R$ 5,00 ou menos. No caso de estudantes de escolas públicas, o ingresso é gratuito. Por um lado, o contato com as culturas regionais é interessante. Por outro, a gratuidade das peças acostuma mal os acreanos.

“Neste ponto, o governo está fazendo um trabalho em contramão com o nosso. Todo mundo compra coisas na vida. Com a arte não pode ser diferente; deve haver um preço a ser pago, mesmo que seja mínimo, 1 real ou 1 kg de alimento. Eu vejo os mesmos estudantes serem ‘forçados por nota’ a assistiram peças, o que é péssimo ao teatro. Muitos deixam até o celular ligado durante as apresentações. E pior: vendem os seus ingressos para ficar de bobeira por aí. Isso é inaceitável”, criticou Dinho, que trabalha com teatro há mais de 30 anos.

O também conhecido como palhaço Tenorino ainda disse que as peças acreanas podiam ser mais valorizadas pelo governo e que se não fosse da parceria e bom senso das empresas não haveria como realizar com sucesso a maior parte dos espetáculos daqui. “As Leis de Incentivo à Cultura são as que mais ajudam, mas elas não cobrem todas as despesas de uma boa peça”, contou ele.

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