terça-feira, 4 de outubro de 2011

FROST/NIXON






Poucas vezes na história da política do continente americano ouviu-se um pedido de desculpas de um ex-presidente. Em 1977, três anos após o impeachment , Richard Nixon se desculpou, em uma série de entrevistas concedidas ao showman britânico David Frost. Porém, as declarações não saíram assim tão espontâneas. Existia uma divergência de interesses sobre as entrevistas: o ex-presidente via a oportunidade de reaver sua imagem com os EUA. E, para Frost, era a chance de dar ao entrevistado o julgamento que ele não teve.

Esta oposição, que resultou em um dos episódios mais memoráveis da TV americana, é o fio condutor do filme Frost/Nixon. Roteirizado por Peter Morgan, aquele de “A Rainha”, o longa-metragem traz os bastidores deste ringue. Frost era um apresentador de entretenimento, algo como o Gugu Liberato nas telas brasileira, que viu no projeto a chance de conquistar a credibilidade perdida. Sem muito cacife para enfrentar o “adversário”, ele convidou os jornalistas Bob Zelnick e James Reston Jr, este último nutria um ódio quase pessoal pelo ex-presidente. O time contra Nixon estava formado. A parti daí, uma pesquisa acirrada resultou em artifícios para colocar Nixon contra a parede.

Do outro lado, o ex-presidente acreditava que poderia manipular facilmente o entrevistador para melhorar sua imagem. E é de fato o que acontece durante as primeiras gravações. Porém, Nixon é surpreendido com as invertidas de Frost. O Caso de Watergate, a Guerra do Vietnã e o Impeachment são os temas de maior tensão durante as 30 horas de

material gravado. Por um momento, os floreios de Nixon perdem espaço para declarações como : “I let the american people down”. 

A batalha financeira de David Frost para conseguir a entrevista, os momentos antes e depois das gravações e as invertidas de ambos os lados para privilegiar seus interesses são pontos do roteiro que ganham notoriedade na direção de Ron Howard.

O ritmo do filme lembra o treinamento de dois boxeadores antes do ringue. O que torna a narrativa atrativa, dando ao clímax - o momento das gravações - a tensão necessária. Grande responsabilidade do sucesso fica a cargo dos atores Michael Sheen (Frost) e Frank Langella (Nixon). Ambos caracterizam os personagens de forma humana e densa, mas é Frank Langella que magistralmente subverte a imagem de político durão e corrupto para um homem maduro que sabe o tamanho do erro carregado nas costas.

Frost/Nixon é simples e denso. Um retrato ficcional de um episódio importante das entrevistas políticas no mundo, mas que não deixa a desejar pelas possibilidades da história ter acontecido como o imaginário de Peter Morgan quer.

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